Era uma mala grande e vazia. Aberta em frente de casa. Deixada numa noite fria...
O que eu coloco na mala? O vazio me cavocava. Vou
pegar duas calças e uma saia. Colocar bem espaçadas. Ainda vai sobrar espaço.
Posso colocar uma jaqueta e um casaco. Não sei pra onde vou. E quem me
convidou.
Coloco escova de dentes? Cremes? Sabonetes? Coisas
de higiene pessoal? Alguns hotéis oferecem. Que hotel será esse? Não há um
bilhete, voucher, nem sinal de estadia. Nada além da mala vazia.
Vou colocar livros. Meu vinho favorito. Acho bom
colocar bombons. De licor. E se escorrerem pelos tecidos grudando os vestidos?
Levo sabão. Tesoura. Linha e agulha. Alguma coisa que faça costura e remende qualquer
estrago. Não sei que horas eu parto.
Que tipo de roupa levar? Será sério o lugar? Vestidos
longos, sapatos altos, colar. Ou melhor
sandália, camiseta velha e uma almofada de sentar. A mala vazia me olha pedindo
pra repensar. Coloco perfumes? Ou sementes naturais? Não sei nada mais. Aonde
vou? O que vou precisar?
A mala é muito grande. Cabe grandes travesseiros. Devo
levar dinheiro? Cheques, cartões? Ou cartas guardadas de amor? Ninguém a meu lado para dizer. Só a agonia da
mala vazia prestes a me enlouquecer.
Vou encher de coisas sem muito pensar. Misturar trecos.
Objetos. Uns sem sentido, outros de valor. Um secador, um coador, um diploma, uma
nota de cem. Meu coelho de pelúcia também. Roupas íntimas! Pode ser que eu
fique muitos dias.
Agora sim, a mala está lotada. Abarrotada. Deixada no
mesmo lugar. Eu sigo com o vazio de não saber como e quando vou viajar.
Vida e morte. Ambas são assim. Uma mala que a gente
carrega e não leva no fim...
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