Durante muito tempo as festas de Natal foram em
minha casa. Núcleo de afetos e lindas histórias. A família ainda era grande e se reunia em torno da personagem agregadora, acolhedora e protetora. Minha mãe, forte como leoa, agasalhando os seus.
Com o tempo e os casamentos dos filhos, a coisa foi sendo espalhada e dividida por outras casas, mas lembro de criança os momentos de carinho e os alegres preparativos. A sala ia aos poucos ganhando colorido com bolinhas, presépio, taças e sininhos. Tinha tudo na nossa ceia. Só não tinha a meia...
Aquela meinha pendurada em cima da lareira. Mesmo que
não tivéssemos em casa uma lareira. Podia ser em cima da porta, presa na
parede. Eu me lembro que pedia sempre. Mas ninguém me dava atenção. Meia não! Meia não
precisa. É coisa de norte-americano. E eu ficava sem a
meia mais um ano.
Minha mãe bem podia fazer uma de tricô! Era craque com
as agulhas. Mas ela adiava o meu pedido. No ano que vem tem! E eu ficava sem a
meia outra vez.
Os Natais foram mudando ao longo dos anos. Famílias
novas dentro do núcleo principal foram se formando. Quem passa o Natal com quem? O irmão
mais velho acho que não vem. O outro irá primeiro na sogra, depois na Dona Olga. E a tia Tereza? Foi
morar em Fortaleza! O Natal foi esvaindo e as pessoas se embaralhando. A
figura central da minha mãe diminuía seu papel, mas mantinha seu tamanho.
Um ano ela prometeu fazer a meinha em tricô com restos de lã, nas cores vermelho e branco. Meu coração bateu forte de espanto e o trabalho manual começou. Dia após dia, a meimha crescia. Até que uma forte gripe atrapalhou a confecção. Precisando de descanso, a meia pela metade ela deixou. Não tive coragem de cobrar a tarefa. Fiquei quieta.
Dias antes do Natal vasculhei o armário e achei o meião de futebol do meu irmão. Abóbora com verde. Qualquer
cor valia. Alarguei a boca da meia, coloquei uma fita vermelha e quando ia
pregar na parede, fui pega em flagrante com a peça na mão. O meu meião, não!
Mais um Natal com ceia e sem meia. Eu não ligava tanto para os presentes que ganhava. Ter minha mãe e a família por perto bastava. Hoje, restam as lembranças das festas grandes do tempo de criança. Eu até tinha esquecido da meinha desejada. Deve ter ficado numa gaveta da memória entocada. Mas ainda dá tempo. Vou ver se compro uma pra colocar em cima da porta.
Papai Noel este ano vai rir
de mim.
- Conseguiu, enfim!
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DESEJAMOS A TODOS OS NOSSOS LEITORES
INES...PLICÁVEIS!
UM FELIZ NATAL E UM 2023 CHEIO DE LIVROS!
Sempre é tempo de realizar um desejo. Mesmo que seja uma meinha de Natal. Espero que renha conseguido...
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