Zeza nasceu, cresceu e aterrissou direto de Mulungu,
cidadezinha de nove mil habitantes no interior da Paraiba, pra ser minha vizinha
em São Paulo. Foi na capital que acabou de estudá e se mudenizá, sorria ao falar. Aprendeu confeitaria e fez muito sucesso, depois de um tempo de dureza e maus pedaços.
Zeza tinha um dialeto especial, o mulunguês, que
com o passar dos anos passei a me acostumar e quase entender. Ela barria com a bassoura. Fazia
chazinho pro figo desagordurá. E todo final de mês pusitava os cheques dos
clientes na conta... - Não é pusitá, Zeza. É depositar! É isso mesmo, despois eu
pusitei.
Não tinha jeito. Fui me adaptando ao mulunguês. Difícil mesmo era entender quando ela falava rapidamente com os parentes. O
mulunguês corria solto feito garanhão no sertão da sua Paraiba. Eu nada
entendia e a Zeza se divertia... Parece ingrêis, mas nóis se entende, dona
Inês!
Zeza tinha um coração maior que o seu sotaque, sua
cidade. Eu adorava aquela autenticidade. E também dos seus repentes, trazendo sempre um chazinho de mulungu quentinho e docinhos folheados de presente.
Quando nasceu seu primeiro neto, o caldo engrossou a língua de vez. Zeza ainda não tinha comprado telefone e a família mulunguense queria
saber do rebento. Era Mulungu inteiro ligando pra minha casa todo o tempo. À cobrar,
querendo a vovó parabenizar. Tio Zinho. Creilson. Deudete. Jucinha. Jonatan.
Luzinete, tia Zerina e por aí seguia. Eu compreendia só metade das
frases e chamava a Zeza correndo... pega aqui que eu não entendo.
Foi na hora de dar o meu presente pro rebento que a Zeza se superou. Eu queria dar algo de valor pra mobiliar o
quarto do bebê que com ela e a filha iriam morar. - Zeza, compre o que faltar! Ela
voltou da empreitada feliz e arretada. - Comprou o presente pro menino? Oxê,
disse com seu sotaque de carinho. Deu direitinho. Comprei a cômbida... e
o belcinho!
Ah, Zeza, que saudade do seu mulunguês, do bebê... e do chazinho!
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