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terça-feira, 9 de novembro de 2021

A PRIMEIRA VEZ... É AZUL!


As pernas eram finas e magrelas. Quadriculadas em azul, efeito do vento frio vindo do sul. Mas saltavam contentes espalhando água pro alto e pra frente. Era a primeira vez que as crianças viam o mar. Num dia feio pra danar.

Foram longos meses de espera. Anchieta ou Estrada Velha? A rota antiga era mais bela. Curvas sinuosas, cachoeiras e mirantes para olhar o alto da serra. Além dos pontos de parada e os marcos da Independência. Rancho da maioridade. Calçada do Lorena. E o pouso Paranapiacaba, provável parada de Dom Pedro ensaiando o grito e lustrando sua espada, já sem muita paciência.

Decidiram pela via Anchieta. Mais rápida e segura. Afinal, tocar o mar era a esperada aventura. Em cada curva da pista, o horizonte azulava a vista. Ora ao longe, ora ao fundo. O oceano Atlântico, vasto e profundo.

No meio da serra já pesava a atmosfera e os meninos sorriram quando seus ouvidos  entupiram. Prende o nariz e assopra, disse o pai, que o ar faz a troca!  Logo mais estaremos ao nível do mar. Praia a vista! Sol, areia branquinha e lindas conchinhas.

Não é que o tempo virou? A praia ficou cinzenta, o mar calmo encrespou e o dia quente, esfriou. Os meninos correram para as malas resgatando seus maiôs listrados e de tecido elástico. Com uma fivela de metal do lado. Podemos ir mesmo assim? As alminhas secas e aflitas imploravam.

A mãe, que sempre agasalha sua cria, vestiu os garotos com uma malha grossa e encheu seus corações de energia. E lá foram eles. Blusa de lã e maiô cafona, pular as primeiras ondas de suas vidas. A praia brava não atrapalhava. Nem o cinza do mar. Nem a malha pesada.

Saíram felizes da água enquanto o pai desapontado, lamentava o mar cinzento.

Sabe pai, onde a gente entrou, só naquele pedacinho... o mar estava azulzinho!


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