Quando eu vi pela primeira vez aquela lagarta verde listrada com duas anteninhas róseas e olhos pretinhos na folha grande do vaso, eu fiquei encantada.
Criança pequena, segui com alegria o serzinho estranho que andava quase desabando e depois voltava à base, folheando.
Chamei alguém que pudesse me explicar o bichinho diferente, com cílios no corpo e cara redonda de gente.
Triste foi ouvir que eu não poderia pegar. Ela queima! Como
pode? E eu até lhe dei nome: Jurema!
Jurema queima? Jurema é malvada? Jurema é bichinho e não sabe de nada. Apesar do pesar e da distância imposta, simpatizei com a lagarta verde e rosa e todo dia a procurava entre as folhas e caules. Tinha dias que dormia e não se mexia. Outras vezes, comia e me deixava observar. Fazia buracos nas folhas, minha mãe não iria gostar. Eu protegia a Jurema. Jamais iria contar.
Foram semanas na companhia da lagarta esquisita e seus
passeios divertidos. Eu me via nela, olhando as folhas gigantes por ângulos invertidos. E me preparava, também, para o desconhecido.
Num dia cinzento, Jurema desapareceu. Jurema partiu? Morreu? Meu olhar não se aquietou até encontrar a estranha casinha. Um casulo de seda amarronzado no meio do vaso. Lá estava ela e se preparava para se transformar. Com duas asas prontas para voar.
Jurema não deu pistas. Não deu na vista. Esperta, me seduziu e se recolheu. Esperou o tempo preciso. Não adiantava acelerar. O tempo no casulo é o tempo certo do maturar.
Domingo cedo comecei a ver Jurema quebrando a sua crisálida e botando a nova cara, ávida, para fora do lar.
Agora tinha outro
corpo. Asas moles se desdobraram até endurecer. Tinha novas cores, olhos e
desenhos. Foram duas ou três horas observando o processo lento. Privilégio de criança, que não se importa com o tempo.
E Jurema, borboleta, voou.
Dei tchau com minhas mãozinhas pequenas e ela partiu cheia de graça. Deixando a lembrança da sua amizade
e o meu sorriso, parecido com o dela, de ainda...
lagarta!
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Inês Bari, sempre curiosa, conseguiu exercitar sua paciência e q privilégio se lembrar até hoje, e principalmente ter visto essa transformação ao vivo...
ResponderExcluirTudo.na hora certa. Adorei.
"Fazia buracos nas folhas, minha mãe não iria gostar. Eu protegia a Jurema. Jamais iria contar..."
ResponderExcluirMaravilhoso, isso!! 🌹🌹
"Esperou o tempo preciso. Não adiantava acelerar. O tempo no casulo é o tempo certo do maturar."
"Privilégio de criança, que não se importa com o tempo." Inês, você é brilhante!!!🌹🌹🌹