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quarta-feira, 25 de novembro de 2020

PÉ SUJO

Era tão bom! Durante o dia, corria e brincava. Subia e descia. As ladeiras e as escadas, na frente da casa... Depois, comia correndo e de novo pra rua voltava. Rodava, pedalava, empinava...
Ás vezes, brigava. Chutava e chorava. Descabelava e sorria. E finalmente, cansava. No começo da noite, quase desmaiando, em qualquer lugar a gente desabava. A mãe, com pena, nem banho dava. E a gente, com os pés sujos, dormia um sono só. Sono profundo. Com pés imundos...

Quem não dormiu com pé sujo uma vez na vida, não sabe o que é bom. Pé de infância cascuda. Pré-digital. De jogos com bola, amarelinha, mãe da rua... Rolimã, bola de gude ou bafo na calçada. E a bicicleta entre os carros, num ziguezague perigoso e acelerado. Um risco danado.

Na chuva então, chapinhando de poça em poça. Nem parecia uma moça! E o pé cada vez mais sujo... - Menina, moleca! Vem se lavar! E a gente por fim obedecia. Mas era um pé de gostosura. Aventura. Inocência. Poeira pura! 

Hoje as crianças tem pés com rodinhas. Tênis com luzinhas. E a sola do pé bem lisinha. De quem não pisa no chão, no quintal, na areia... e nem na grama do vizinho! 
Eta infância sem graça, de pé de anjinho...                                                                                                                     
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 Crônica inspirada na música de Dorival Caymi... Quando durmo...
                                                                                 youtu.be/zs1J7CLG9ss   




          *                         *                             *                             *                                                        
crônica do livro Inesplicando Vol.1
          


quarta-feira, 18 de novembro de 2020

O ANDARILHO... ANDA!



O homem era magro e de semblante cansado. Com uma velha mochila nas costas e sotaque espanhol enrolado. Nos perguntou onde ficava Chapecó! Estávamos há pelo menos mil quilômetros de distância do lugar, sentados  tranquilos num restaurante em São Vicente, em frente ao mar. 

Enganou-se o andarilho? Era longe demais o seu destino. Devia haver algo errado. Chapecó é em outro Estado. Seguramos o riso nos lábios dizendo ao homem que ficava muito distante. Centenas de quilômetros adiante.

Sua expressão não se alterou. Qual o sentido? ele perguntou. Para o sul, respondemos dando conselhos para ele chegar até a pista e seguir andando sempre em frente, quase toda a vida...

O andarilho de olhar tímido e profundo pegou a mochila carcomida e foi sumindo pela rua do mundo. Só a lua que já aparecia, lhe fazia companhia. E ele há de ver muitas luas iluminando as noites escuras. Irá cruzar diferentes paisagens e gente. Colinas, montanhas. países. Quem sabe, continentes.

A caminhada poderá durar semanas ou meses. Ora desgastante, ora surpreendente. O andarilho sentirá na pele a chuva molhando e o sol ardente. Passará por ruas, becos, riachos, campos floridos. Verá mirantes lindos. Vai se achar e se perder.   

Depois de encontra o lugar, ele não vai sossegar. Porque o andarilho não para. O andarilho  anda. Sua vida é o caminhar. 

Nós, estáticos, continuamos só olhando... o andarilho ao longe se afastar...

 

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sexta-feira, 6 de novembro de 2020

SE CORRÊ... O BICHO PEGA!

Era um homem magro. Um metro e noventa. Olhos fundos. A pele enrugada e castigada de sol. Dizia poucas palavras... Sim, seora. Resorvo isso, agora! Fumava e andava com um facão afiado na cintura. Cortando lenha, mato ou o que aparecesse de ruim pela frente. Dizem que assim, tinha dado fim a um traidor em Goiás, um tempo atrás. Eu tinha muito medo do seo Abel... 

De tarde era tranquilo passear. O sítio tinha três saídas. De um lado, o grotão. Com um olho d’água e árvores gigantes que fechavam a paisagem e davam ar de mata sombria. Havia uma ponte de eucalipto para atravessar. Mas eu não me atrevia. Eu tinha medo de encontrar o Seo Abel...

Do outro lado, um caminho suave que cruzava a horta e ia dar no lago. Lindo e raso. E, por fim, a saída principal passando pela casa do seo Abel. Onde tinha um poste de madeira e uma fumaça que saía branca feito um fantasma da pequena chaminé...

Na noite fria de lua cheia eu quis ouvir o som do silêncio e me encher de brilho e poesia. Sai caminhando pela horta vazia, passando pelo milharal. Olhei para um lado. Para o outro. E de repente dei dois passos para trás. Esbarrei num ser bem grande. Com gravata, calça xadrez e mangas largas. E parecia querer me abraçar. 

Ligeira e tremendo de medo, sai correndo pegando o primeiro atalho. Sem perceber sua cara mal feita de abóbora e os cabelos de milho debulhado, do qual era feito o pobre e velho espantalho!

Mais a frente enchi o peito e sem qualquer preconceito gritei no meio da mata escura... seo Abel, socorro! Seo Abel, me ajuda!  

E o rude caseiro de facão na cintura que me metia tanto medo surgiu feito um coiote  ligeiro e se embrenhou na mata, me resgatando intacta, com ar sem jeito e um sorriso sem graça. 

Ah, as aparências, como enganam...

 

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quarta-feira, 4 de novembro de 2020

PÃO NOSSO...

Eram gelados os invernos em Vila Real, terra natal de minha avó, em Portugal. Ela contava, com olhos marejados, que ajudava sua mãe fazendo pães durante o outono. Depois de prontos, guardavam os nacos dentro de um velho forno, embrulhados em um pano, para durarem todo o inverno. Tempo duro. Como os pães, que tinham de resistir, às vezes, três ou quatro meses.

Deviam ser cascudas aquelas côdeas de pão, como ela chamava os pedaços que alimentavam homens e mulheres que no campo trabalhavam. Eram tempos distantes. Norte de Portugal, antiga província de Trás-os-Montes! Ela dizia... parece que foi ontem! Às vezes, nevava. As mulheres recolocavam o pão em torno do forno, perto das brasas que aqueciam a casa.

Fiquei com o pensamento em Portugal, naquele tempo frio próximo ao Natal e nos pães quentes estalando em minha mente por muito tempo. Imaginava os nacos de trigo sem muito gosto e fermento, mas com um bom vinho tinto à mesa, servido em jarras de cerâmica portuguesa. Sentia o sabor familiar das uvas, dos pães... da mãe da minha mãe.

Por isso, amo pão. Para mim, é sagrado! Bíblico. Gosto de tudo que é jeito. Pão de peito. Pão quentinho. Pão na chapa. Torradinho. Pão Italiano. Pão francês. Pão de leite. Pão de milho. Pão de cará. Pão branquinho. Escurinho. Pão-de-ló, marronzinho. Pão, pão, pão, pão! Feito em casa, então? Com suspense e emoção. Será que cresce ou não?

Quando criança, a grande aventura era entrar em casa, arrancar um pedaço de pão e voltar pra rua devorando o naco roubado. Era pão sozinho. Sem recheio no meinho. Se deixassem, eu beliscava a bisnaga inteirinha na volta da padaria.

Meu primo era ainda mais apaixonado. Certo dia, na volta do mercado, ele tinha um sauduíche engraçado. Três fatias de pão com nada dentro. Que sanduíche é esse, Reinaldo? Sanduiche de pão! - O que tem dentro? Pão com pão,mesmo!       




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