Passei a infância ouvindo o refrão... “ O meu chapéu tem três bicos. Três bicos tem meu chapéu. Se não tiver os três bicos. Não pode ser meu chapéu.” A melodia
grudava feito o chapéu atarracado no meu cocuruto. Meu pai cantava. Minha mãe
completava. A tia cantarolava. Eu acabava sorrindo. Só assim, o coro parava.
Anos mais tarde vim saber o que era o tal do chapéu de três bicos ou três abas. O famoso tricórnio, que se tornou popular nos anos vinte. Todos usavam. Civis e militares. Virou moda. Ganhando até
a canção!
São engraçadas as histórias e costumes familiares que passam de
geração em geração. Eu lembro de ter que pedir a benção pra minha tia. Bom dia, “bença tia” e um beijinho em sua mão. Passei anos fazendo o cumprimento até que minha
mãe se modernizou... Deixa a menina à vontade! Isso cheira à antiguidade. Já passou! Ainda
hoje, lembro da minha tia e a benção tímida que eu pedia...
As gavetas hereditárias se abrem de vez em quando e a gente se pega fazendo e dizendo coisas
ancestrais. Ainda sirvo a mesma sopinha de legumes que a avó Emília fazia.
Mordo os lábios de nervoso como meu pai e meu irmão. Gosto de rádio como meu
avô. Lembro da minha mãe quando vejo
um belo tricô!
Há um pouco deles todos em mim.
O queixo da mãe. A ansiedade do pai. O jeito de rir da prima Eloá. Além das pessoas queridas que conhecemos e vão nos acrescentando gestos e comportamentos na velha alma de retalhos costurados com amor e cuidados.
Quando me deixaram o pequeno sobrinho no colo entre resmungos e começando a chorar... Tirei o seu chapeuzinho e com a peça na mão comecei a cantar... “
O meu chapéu tem três bicos. Três bicos tem meu chapéu... Se não tiver os três bicos...
E no exato instante do canto, o menino ergueu os olhos segurando seu pranto e começou a
sorrir...
Era o velho arquivo, funcionando... Só agora, eu entendi!
* * *
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Sensacional!
ResponderExcluirObrigada, Edgar!
ExcluirQuando vi a figura do chapéu na hora lembrei da música... sem ler seu lindo texto!
ExcluirBOM.demais , tão gostoso.de ler.
ResponderExcluirReconheço na memória algumas heranças da família Bari, q passou dos avós para os pais, dos pais para os filhos..
Morder os lábios na hora do nervoso, o mesmo queixo do pai e da mãe misturados nos filhos, o mesmo humor, o mesmo amor pelo Corintians..rs.
A sopinha da avó, o tricô de Donolga, inesquecível.
Herança de minha família, tb a soma de algumas pessoas q passaram e passam pela minha vida.. a longa, feliz e eterna convivência com marido e família dele..essa sou eu.
Uma soma, uma herança.
Você me emocionou Soninha... há um pouco ou bastante...de você em mim e de todos que amamos e por nós passaram...
ExcluirUaaaau, lindo demais! No fundo, somos todos herdeiros dos nossos ancestrais! Parabéns por “tornar” isso tão lindo! Muitas lembranças retornando! 👏🏻👏🏻👏🏻😘🌹🌹🌹
ResponderExcluirObrigada Carlos...por entender sempre, simplesmente...
ExcluirAhhh quantas boas lembranças... quanta nostalgia... daquelas bem gostosas de sentir. O relato é de suas heranças mas vc sempre nos faz percorrer os caminhos que nos remete à lugares tão simples de nosso passado e de nossas heranças. Obrigada por mais essa viagem no tempo de nossa história.
ResponderExcluirObrigada você Beth... dividindo comigo essas lembranças... bjs sds
ResponderExcluirEu quero!
ResponderExcluirInscrita! Boa sorte!
ExcluirObrigada pela visita no blog, Zanni!
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