Não é Karl. É Karl-Heinz! Hanna apresentou assim o marido naquela tarde ensolarada na praia de Jurerê. Bastaram
alguns olhares e veio logo a pergunta sobre o drink vermelho que os encantou. - Caipirinha
de Morango, dissemos! Eles apelidaram alegremente de “ caipirango!”.
Nascia ali a
improvável amizade entre dois casais, brasileiros e alemães. Ela tinha um inglês difícil e germânico e era assistente social. Viajava em
missão. Tinha um filho especial. Nos entendemos mais com o olhar fraternal. Karl Heinz era engenheiro de alimentos. Entendia de biscoitos e
bolachas. Mas gostava mesmo de velejar e provar do nosso "bom" cachaça.
Navegamos
longas e belas tardes em caiaques de dois lugares. Karl contava dos mares gelados.
Da pesca. Dos escandinavos. Oceanos distantes e bravos! Era um alemão branquinho, com bochechas avermelhadas. Nos últimos dias, ardidas e estorricadas.
Karl chegou na praia com camisa de flanela. Xadrez. Manga comprida vermelha e amarela. Rimos
muito. Sem abraços apertados, ardiam demais os seus braços.
Dois anos depois, o casal veio de Brehmen até o Brasil e se hospedou em nossa casa. De manhã, a surpresa. Estava pronta a mesa! Pão.
Leite. Café que ele mesmo fez em nossa engenhosa cafeteira. Biscoitos e manteiga que
ele achou na geladeira. Hanna sorriu. Karl-Heinz é assim! Tomamos o café e eles tiveram que partir...
Não vou esquecer seus olhos azuis e marejados no dia do último abraço. Hoje, folheando o livro que ele nos presenteou, revi a carta indesejada falando da sua partida e da missa de sétimo dia...
Agora as lágrimas são minhas. Lágrimas de água e sal. Feito o biscoito.
Feito o mar. Que nos uniu e nos separou. Boa viagem, Almirante Karl... Karl não,
Karl-Heinz!
Tanto faz. As palavras e as distâncias já não atrapalham mais!
****************************
Nenhum comentário:
Postar um comentário