foto: Water
Não era um garoto mau. Tinha amigos, jogava futebol, amava os pais... Mas tinha uma coisa a mais: gostava de assustar pombos!
Corria enlouquecido em direção aos bichinhos até que largassem seus milhos e partissem em revoada. Depois, com o canto da boca, sorria. Lançando um olhar saborosamente mau...
Corria enlouquecido em direção aos bichinhos até que largassem seus milhos e partissem em revoada. Depois, com o canto da boca, sorria. Lançando um olhar saborosamente mau...
Menino como ele, perguntei certo dia porque gostava tanto de assustar os pombos. Sem muito pensar ele respondeu: - Não sei!
Vinte anos se passaram e aquele menino tornou-se um homem de sucesso. Gerente. Diretor. Dono da empresa. Soube que teve dois infartos e um AVC que lhe entortou definitivamente parte da boca. Mesmo assim prosseguiu com sua dura postura. Grande fortuna. Embora os pés rastejassem ligeiramente no chão...
Era ele o dono da agência onde eu havia me empregado como redatora. Expectativa muito boa.
Na última reunião da semana, pude ficar frente a frente com o “chefe”. De ouvidos atentos e com a impaciência de um general, ele escutou as idéias. As minhas e de mais uns cinco funcionários da agência. Gente empenhada. De excelência. Não gostou de nenhuma! Olhou com displicência. Ar de aborrecimento...
Num exato momento,
virou-se enfurecido na cadeira e batendo com a mão na mesa ordenou à obediente platéia: - saiam
daqui e só voltem com novas idéias! Depois sorriu com o canto da
boca, lançando aquele olhar... aquele olhar, saborosamente mau.
Todos partiram, feito os pombos. Em revoada para suas salas. Menos eu... Dez pras três já estava em casa. No
programa, um final de tarde inteirinho. A família, meus livros, um bom vinho...
Amanhã será outro dia. Outras idéias? Talvez. Ou um outro emprego? Muito provável. Ainda não sei... Mas agora sei porque aquele garoto assustava pombos...
Eles sabiam voar!
Belo texto, vizinha. A sensibilidade de sempre em forma de doces palavras. Meu netinho de três anos adora por os pombos e passarinhos pra correr, ou voar, no jardim da praia do Boqueirão. Faz isso desde que começou a se sustentar nas pernas. Porém, ele não tem esse sorriso mau no canto da boca. É pura peraltice. Ele se diverte, talvez na ilusão de que, algum dia, se um desses bichinhos voadores bobear, possa pegá-lo triunfalmente e, com um sorriso largo, me dizer: ''olha, vovô, eu consegui!".
ResponderExcluirJoaquim, com certeza o brilho no olhar do seu netinho é pura peraltice e não se parece em nada com o olhar saborosamente máu do nosso personagem... E quando adulto, certamente seu netinho saberá alçar vôos, com o respaldo do carinhoso e cuidadoso vovô! beijos e obrigada.
ExcluirMuito legal..
ResponderExcluirSempre textos tão inteligentes e sensíveis..
Gostei do texto, sensível e com doçura nas entrelinhas!
ResponderExcluirEu quero!
Obrigada. Tá concorrendo.
Excluir"Eu quero"
ResponderExcluirÓtimo texto.... como sempre. .. EU QUERO
ResponderExcluirÓtimo texto.... como sempre. .. EU QUERO
ResponderExcluirSerá que os meninos que assustam pombos também precisam aprender a voar? Lindo texto e lindas imagens.
ResponderExcluirisso... :)
ExcluirOlá Isis... Penso que sim... Tomara que aprendam...É tão bom poder voar, não é mesmo? Obrigada pelo carinho e pela leitura.
ResponderExcluirBravo!
ResponderExcluirGrata!!!
ExcluirUma longa estória brevemente contada! Um fechamento inesperado e surpreendente! Apesar de triste, uma boa estória.
ResponderExcluirObrigada pelo carinho da leitura.
ExcluirMuito bom :)
ResponderExcluirObrigada Paulo.
ExcluirParabéns Ines, muito linda a hisória...Nos encaminha a um devaneio bem particular, identificando o cotidiano, imagens do passado presente e futuro. Um grande bjo
ResponderExcluirGrata, Francisco. Bom saber que gostou! abços...
ExcluirAmei a história viajei nela ,imaginei o menino o homem em que ele se tornou ,adorei o humor ...EU QUERO
ResponderExcluirQue bom saber... Obrigada! Tá concorrendo!
ExcluirMuito gostoso. Leve. Saboroso. Gosto de textos com poucas palavras e muitas imagens. Valeu.
ResponderExcluirMuito gostoso. Leve. Saboroso. Gosto de textos com poucas palavras e muitas imagens. Valeu.
ResponderExcluirPoxa, Leo, gostoso demais saber que saboreou o texto!!! Obrigada pela leitura! acompanhe o blog se puder...
ExcluirPOIS É, E NÓS? SABEMOS VOAR? BONS VOOS A TODOS...
ResponderExcluirAprendizes ainda, não é Ruben? Obrigada pelo carinho.
Excluirdelícia de texto, Ines!
ResponderExcluirGrata Nani....Gostoso saber...
ExcluirAdorei os textos. São leves e envolventes.
ResponderExcluir