Todo ano é igual. Nunca sei ao certo o dia de montar minha árvore de Natal. Vinte de novembro? Um mês antes? Primeiro de
dezembro? Ainda bem que alguém estabeleceu o dia seis de janeiro para o seu desmonte. Aí é moleza. Sem incertezas. Sem muito
pensar. Quanto às bolinhas velhas dos anos que passaram, para mim continuam sendo um dilema. Não consigo me desvencilhar.
Não sou de
acumular coisas. Guardar papeizinhos, caixinhas, vidrinhos e coisinhas
materiais. Pra ser sincera, nem documentos importantes eu guardo. Muitas vezes, somem e nem dão sinal. Mas com relação às bolinhas de Natal, bate uma
coisa, sei lá, sentimental.
Tenho seis ou sete bolinhas azuis muito descoradas.
Desbotadas. Feias de fato. Mas que não consigo desprezar. Todo ano é o mesmo
movimento. Armo a árvore. Compro bolinhas novas. Modernosas. Com glitter. Purpurina. Laços de fita. Mas na hora de jogar fora as azuizinhas... Velhas e desbotadinhas. Vem aquele aperto.O coração encolhe, vira
bolinha dentro do peito. E me rendo às
recordações.
Estiveram em tantos Natais com a gente. Ouviram canções em
coros estridentes. Viram nossos olhos brilhando a cada presente. E à meia
noite, os abraços mais quentes. Como posso jogar fora por estarem velhinhas e desbotadas? Que santa desalmada!
Um ano até tentei. Coloquei no cesto da lixeira. Mas logo
resgatei. Que loucura! Jamais desta maneira.Vou dar para minha
mãe. Ela enxerga pouco, quase nada. Não iria se importar com as bolinhas
desbotadas. Que nada! Rejeitou de cara. Oras, filha. São tão
baratinhas. Troca todas as bolinhas!
E lá trouxe eu de volta, as bolinhas
feinhas e azuizinhas para casa. Este ano, pensei em não colocar na árvore e
deixá-las na caixinha. Mas é discriminar do mesmo jeito. O meu dilema
continua. E antes que eu tenha que fazer muita terapia...
Alguém quer ficar com as minhas bolinhas?
Alguém quer ficar com as minhas bolinhas?
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