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quarta-feira, 4 de abril de 2018

O LADO ESCURO DO TÚNEL

                            
                        Foto:  A Tribuna
Larguei meu carro na garagem. E tem sido assim, semanalmente, desde que virei fã do Veiculo Leve sobre Trilhos, o VLT, recém chegado ao litoral paulista, ligando as cidades de Santos e São Vicente.
Rápido. Moderno. Ar condicionado no ponto. E aquele aspecto, ainda, de novo. Nele se vê a cidade com todas as suas multifaces e contrastes vis. A periferia. A singeleza das casinhas modestas. O piche. A sujeira. O caos...
Um vão por onde se vê a praia. O mar. A areia. A beleza do entardecer. E no fim do túnel, a cena que ninguém quer ver...
A primeira vez que passei pelo túnel percebi que todos os olhares se voltavam para as janelas daquela estação. E o que se via, eram seres vagando. Em bandos. Homens. Mulheres. Adolescentes... Aparentemente dormentes. Amontoados na pequena calçada lateral.
Alguns fumavam. Outros dormiam. Outros somente caminhavam. Seguiam rente aos trilhos. Sem noção. Nem direção. O VLT passa bem veloz. E em poucos segundos, cada um no seu mundo, a trabalho ou a passeio, sai do túnel do pesadelo e segue até a sua estação.
Vejo semanalmente os pobres moribundos. Craqueiros. Prisioneiros do estranho mundo. Escuro, viciado, profundo... E eu até já reconheço alguns deles. A moça de cabelo loiro emaranhado e olhos azuis. O rapaz de blusa listrada. O velho de calça rasgada. E o da blusa escrito Rollingstones!
Eles se afundam todos os dias no túnel. E não sentem o trem passar. O VLT passa ligeiro... A vida também. A esperança é quem nos reconduz.
Enquanto os seres do túnel seguem em direção contrária. 
Cada vez mais distantes da luz...


*                             *                                    *                                         *

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2 comentários:

  1. Realmente, vizinha, essa cena do túnel na passagem do VLT, que você tão bem descreve com uma sensibilidade angustiada, mostra, sem retoques, a insana degradação do ser humano. Com certeza, com o corpo e alma entorpecidos pelo vício, com o qual aliviam os tormentos dos sucessivos fracassos na vida, eles não percebem a passagem do trem. Para a maioria, a esperança derradeira que costumamos chamar de ''luz no fim do túnel'' já não existe, restando apenas a escuridão que os tornam invisíveis ao mundo real. O VLT, que passa bem rente à calçada onde eles se amontoam, talvez seja o único sinal de que a vida corre sobre os trilhos, num eterno vai-e-vem, à espera da chegada do fim da linha, na escuridão de um túnel infinito. Muito triste.

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    1. Quanta sensibilidade vizinho... Fruto de observação e experiência de vida. Compartilho cada sentimento seu. Seus comentários são deliciosamente humanos e poéticos!

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