Páginas

quinta-feira, 26 de outubro de 2017

ERA UMA QUADRA MUITO ENGRAÇADA...


 Não era uma pedra no meio do caminho. Era um ralo. Um grande ralo! Também não era um caminho. Era uma quadra. Muito engraçada. Quadra improvisada onde os alunos, alegres e indiferentes ao fato, jogavam volei, basquete e futebol... 
Eram rústicas as aulas de educação física do Colégio Padre Anchieta, no antigo bairro do Brás. As tabelas de basquete, presas na parede, eram de tamanho oficial. Mas as dimensões da quadra, não! 
Pequena e espremida no vão do pátio, o chão era o que mais complicava. De bloquetes sextavados e ásperos. Sem área de escape. E com aquele incrível ralo no meio. Como ralava nossos joelhos...
Pra não perder o controle da bola, o melhor era driblar o bendito ralo, ou bater no “meinho”. Coisa de craque! Modéstia a parte, técnica que eu dominava. E como eu driblava...
Nos jogos de volei, só os levantadores, fixos na época, é que sofriam. Vez ou outra alguém torcia o pé. E a gente se perguntava, como podia um colégio ganhar tantos jogos e torneios, treinando numa quadra com um ralo no meio? Os professores compensavam com empenho.
Eu vinha de um colégio modernizado. Com uma quadra oficial, onde a turma do esporte treinava e nunca ganhava. Eu me pegava embasbacada...
O Padre Anchieta tinha algo mais. Alma! E com certeza, alguns fantasmas atletas infiltrados. Principalmente no final dos corredores do velho prédio. De azulejos portugueses, banheiros amplos e assustadoramente vazios.
Voltei lá, há uns dez anos atrás, para visitar o colégio, junto com outros ex-alunos. O prédio agora abriga a Oficina Cultural Amácio Mazzaroppi. Ficou linda a restauração! Continuam belas as antigas janelas de vitrais coloridos e as escadas em caracol. A quadra ainda está lá. Agora, um pátio de apresentações. Com seu ralo de ferro. Quadrado. Bem no meio.
Olhei de pertinho. Os olhos encheram de água e percebi o quanto era mágico aquilo tudo. Eu adorava aquele ralo. Que se chamava... superação!

***********


2 comentários: