Minha mãe já sabia. Era batata! Bastava um falar
mais alto. Ou um olhar daqueles que suspendem uma só sobrancelha e pronto. Lá
ia eu com meus cinco ou seis aninhos, de bico e emburrada, chorar ao lado
do piano.
Era o meu refúgio aquele piano amigo e antigo que ficava no final
da sala e que me abrigava de um jeito acolhedor, do lado da parede onde
ninguém podia me ver... E era sempre a
mesma cena. Ia chorar? Corria atrás do piano!
Os motivos eram tantos... Dos mais sérios aos mais amenos. Uma
repreensão boba qualquer... Uma nota baixa na escola. Algo que saiu errado. Ou
muitas vezes, uma injustiça! E toda vez que um bicho morria e eu não
podia fazer nada para impedir...
O piano era a rota final e a nota triste do
dia. Foram muitas, inúmeras as vezes que escondi minhas lágrimas naquele
cantinho e devo confessar que ainda hoje, muitas vezes, sinto vontade de correr
e chorar atrás do piano.
A gente cresce. Amadurece. Endurece. E os motivos parecem os mesmos. Numa escala
de menor pureza, talvez... A palavra que agora fere mais fundo. A injustiça no trabalho. A decepção de um velho amigo. E a perda... Ah, as perdas da vida madura. Vão se todos! Os bichos,
os melhores amigos, os parentes chegados, os pais...
A gente envelhece e não tem mais o velho piano, Nem para acolher. Nem pra confortar. Esconder não precisamos mais. O piano agora é
só uma memória de criança de uma música triste que tocou lá atrás. A gente agora, segue de dor em dor, correndo
ligeiro...
E não temos mais
tempo... e nem piano por perto, pra chorar!
* * * * *
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SORTEIO DIA 21 DE ABRIL!
Que lágrimas gostosas da infância!As da fase adulta, são doloridas demais!
ResponderExcluirNossa.. Q lindas lembranças..
ResponderExcluirConsigo imaginar VC, chorando escondidinha atras daquele piano..
Uau, Inês, doce e sublime, como sempre! 👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻
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