Sábado de carnaval. Não me levem a mal, mas não era ali que eu queria de estar. Ala
dos enfermos e cardiopatas. No meio de anginas, taquicardias e infartos do
miocárdio. Pressão muito alta!
Na entrada, o bloco do avental azul, cada um com seu paciente na maca. Abriam alas e salas, desfilando na passarela do velho hospital. Meu coração batia feito tambor. Ansiedade pedindo passagem...Veio a ala dos doutores. De branco, com seus adereços de
mão. Estetos, medidores de pressão, pranchetas e papéis de exames. Era uma
ala de respeito. Mestres da velha guarda com seus cabelos grisalhos. Deu um certo sossego.
A ala mais simpática era a das enfermeiras. Algumas delas, cheinhas, com seus jalecos brancos, cruzavam de lá para
cá com leveza e boa evolução. Tudo dentro da marcação dos eletros. Compassos monitorados. Tum-taques perfeitos e desejados. Pra ninguém entregar os pontos na avenida!
Do lado de fora e com o coração na mão, eu acompanhava o senhor Antonio tentando manter a pressão, focando no piso da passarela. Eu passeava de lá pra cá, decorando a sequência dos velhos azulejos portugueses que iam dar na ala da nova guarda do hospital, em piso xadrez azul e branco bem atual.
No final da bateria, a arritmia não passou de um
susto. Estresse desta vida insana e da competição desmedida. Soma fatal de metas, rapidez e perfeição. Pobre coração. Agora um rivotril, aspirina e tudo fica bem. A partir de agora, vida Zen!
A carnafolia no hospital terminou no batuque frenético do plantão central. Sem plumas. Nem
confetes. Só tubos e catéteres. No final, alegria geral. Evolução nota
dez!
Estamos de alta, comentei com o Senhor
Antonio, ainda na maca... Eu vou lembrar do chão desta passarela. Seo Antonio olhou para mim e depois olhou pro alto como quem fala com Deus um papo reto ...
- Eu vou lembrar só do teto!
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