A Avenida Paulista era um mar de gente às sete da manhã.
Naquela sala gigante eu sentava, pensamento distante, com meus sonhos, espinhas, colinhas e tarefas estranhas. Física, matemática... e a mais terrível de todas: a química orgânica!
Eu detestava química orgânica. Meu Deus, para que serve o benzeno? Sei que tem seis ligações, ao menos.
Foi num dia de Vaticano que o toque iluminado de um anjo ou seria, um arcanjo? ... aconteceu. Ele nem percebeu. Foi um toque de mestre. Toque divino dado com carinho, no meio da aula de português: - o que faz aqui, cara Inês?
O professor Arlindo desceu do púlpito e veio até a minha cadeira mexer com minhas certezas e mudar uma vida inteira. Parado ao meu lado, enquanto todos se preocupavam com os textos de interpretação, ele segurou o meu caderno em suas mãos. Olhou as folhas soltas. Os rabiscos pelos cantos. Letras dos Beatles. Frases que eu guardava e nem sempre lia. Papeis celofanes e poesias.
O mestre foi direto, com sua voz literária de velho conhecedor:
- Tens alma canceriana! Nesta sala de biológicas? A quem enganas? Você é de humanas! E apontou meus rabiscos, meus textos e os inclinados traços artísticos.
Ainda hoje sigo escrevendo, rabiscando, inventando, contando histórias e crônicas do meu tempo. Culpa do toque certeiro.
Valeu, Mestre Arlindo! Eu não gostava, mesmo, de benzeno.
* *
Os livros Inesplicando de crônicas e O voo de Tábita... você encontra na Estante virtual e na Papale's Editorial.
LER FAZ BEM!
Uaaaau, “toques” ou “conselhos” que mudam toda a nossa vida! Parabéns por segui-lo! 😘🌹👏🏻👏🏻👏🏻
ResponderExcluirVerdade, Carlos!
ResponderExcluirDesculpe perguntar mas, quem era essa professora maravilhosa de biologia?
ResponderExcluirProf. Seiko. Assim mesmo, como o relógio. Pontual e precisa.
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