Alguém quer ficar com as minhas bolinhas?
* *
DÊ LIVROS DE PRESENTE NESTE NATAL
COMPRE OS LIVROS DE CRÔNICAS "INESPLICANDO" II e II E o lançamento infantil "O VOO DE TÁBITA
Na Amazon, Estante Virtual e Papale's Editorial.
A criançada se juntava debaixo da velha escadaria. Não havia lugar melhor para ouvir histórias de medo contadas em segredo pela tia Zilda.
O sapato da Maria era a nossa preferida. A luz na saleta, sempre fraquinha. Acesa, só a lâmpada da cozinha dando um tom amorcegado ao ambiente escuro e pálido.
Tia Zilda contava a história da pobre Maria,
empregada por uma mulher rica e de miserável coração. Era quase escrava em
sua mansão. Ganhava muitos insultos e pouco tostão.
Maria não desistia. Tirava dali o sustento para cuidar dos seus pais doentes. Um enredo triste demais se desenhava em nossas mentes. Uma megera impertinente, de verrugas peludas, cheirando a mofo e resmungando contra as paredes.
Certo dia, a cruel senhora foi enxotar um cãozinho que lhe pedia comida e carinho. Ao sair correndo
atrás do cão, atravessou a rua sem atenção e foi colhida por um
caminhão. Era horror e tragédia. A criançada vibrava com a ideia.
No enterro da mulher, a família agradeceu à Maria tamanha dedicação. - É justo que leve daqui uma recordação! Maria
lembrou da festa da família e que só tinha
um chinelo de dedos remendado nas tiras. Pegou de presente um fino sapato de salto alto e
levou para casa, colocando-o debaixo da escada.
Passados três dias, Maria dormia, quando ouviu
o som de passos se aproximando. Encolhida nos lençóis, tremeu todos os dentes já imaginando em prantos quem era. O fantasma da patroa queria de volta o que era dela!
Tia Zilda então mudava o tom da voz e tremulava feito fantasma, dizendo a frase que a gente tanto esperava... - Maria, me dá meu sapato! - Maria, me dá meu sapato! Maaariaaaa...
E um par de sapatos caia bem no meio da roda, jogado do
alto da escada. Tudo orquestrado. Era criança pulando pra tudo que é lado.
Todos previam o momento. O auge era soltar o grito
que vinha de dentro. A história se repetia. A gente sabia de cor, mas pedia e pedia... conta de novo, tia, a do sapato da Maria!
*********************************
PEÇA SEU EXEMPLAR DO LIVRO O VOO DE TÁBITA POR WHATSAPP
13 997754072
RECEBA EM CASA PELO CORREIO
O jingle da Graça telefones, o mais famoso e sem
medo de errar, o mais tocado nas décadas de 80 e 90 no rádio santista,
nasceu assim. De bate pronto.
O Boka era o meu amigo músico da faculdade. Foi ele
que me convidou para fazer a peça publicitária. Tínhamos na época, vinte e
poucos anos. Curtíamos as mesmas músicas e bandas. Ele já tocava bem o violão e
eu ainda arranhava uma ou outra canção. Às sextas feiras, havia música no
corredor da faculdade. Sexta Super. Lá começou nossa amizade.
Que tal fazer um jingle, loira? Você bola a letra e
eu coloco a música. Não tem ninguém aqui em Santos produzindo jingles. Topa?
O convite foi mágico. Cheguei em casa com um pedacinho de papel escrito à mão com caneta Bic... Graça Telefones. Instala em três dias. 378537. Repete. Peguei o velho violão herdado do meu irmão da época da faculdade de Medicina, que conservava como prova da sua trajetória vários esparadrapos grudados na tampa e comecei a dedilhar na cozinha da casa, sem ninguém pra ouvir ou palpitar.
Meu gosto musical sempre foi pop rock. Mas ideia que
vem fácil a gente não rejeita e me veio à cabeça um samba de breque. Surpresa!
Imaginei um cliente querendo comprar uma linha
telefônica (na época era cara à beça uma linha) e mandei um dó maior... – ALÔ! EU PRECISAVA DE
UM TELEFONE!
Daí pra frente a sequência veio vindo. Alguns acertos aqui e ali e em meia hora eu já tinha dado à luz na folha de papel, à letra que viralizou.
No dia seguinte mostrei para o Boka. O jingle tinha
o lance comercial e ele deu os toques refinados no instrumental. Ficou redondo.
Fácil de cantar. E o telefone repetido duas vezes, como pediu o cliente, tinha tudo pra grudar nas mentes.
Agora só faltava gravar. Mas onde?
Na rádio Tribuna não deu certo. Partimos para o Heavy
Metal, casa de shows que sacudia a cidade com o rock nacional do momento.
Foram horas de ajustes nos equipamentos. Fios invertidos, microfonias e dez versões gravadas. No final da noite, um ruído indefinido apareceu do nada e todo o trabalho foi desperdiçado.
Vamos gravar no Estúdio do Blow Up. Ou vai ou racha!
Lá fui eu e o Boka, com a ajuda da banda amiga, para uma nova empreitada.
O Luigi, um cara tranquilo, cheio de filhos e que
tinha uma livraria no Gonzaga, dividia comigo a cantoria. Tinha que gravar tudo
junto numa só gravação, voz, instrumentos e locução. Sem cortes. Sem erros. Sem discussão.
O saudoso *Robson pediu silêncio. Um, dois, três... gravando! Numa só levada, o jingle saiu por inteiro.
-"ALÔ! Eu precisava de um telefone. Quando um amigo
indicou seu nome. Quero saber qual a ligação, muito prazer, satisfação! Pra
colocar você na linha, eu tenho um plano que é uma gracinha. Financiado e com
garantia, pra instalar leva só três dias. Seu telefone vai fazer assim...
tirrim tirrim tirrim tirrim! 378537. Repete... 378537. Promete. Não desligar de
mim. Promete, não desligar de mim! GRAÇA TELEFONES, com você sempre na linha!"
Jingle pronto. Em pouco minutos. Ficou com quarenta
e cinco segundos. Era longo, mas na época era fácil negociar com as emissoras.
Não tinha quem não cantasse. Até hoje, encontro por
aí alguém que lembra da letra e do refrão. Anunciantes mais antigos usam o
jingle como referência na hora de fazer suas peças publicitárias.
Simples. Simpático. Artesanal. Coisas que acontecem.
Sorte, ou acaso?
Sei não. Só sei que virou Hit! ALÔ!...
****************************
*Robson Melo, guitarrista e backing vocal da Banda Blow Up.
**********************
QUER RECORDAR O JINGLE?
ouça aqui no CANAL INESPLICANDO You Tube.
https://youtu.be/OwAlkaDVGaY?si=0hbXqpeSrx4KS8DO
Nada se parece mais com uma casa em ruínas, do que uma casa em construção. Essa frase, repetida alegre e diversas vezes pelo Dr. Pio, velho amigo da minha família, levei comigo para a vida adulta e hoje posso cravar que ele estava certo! Concordo plena e profundamente.
Vítima de várias reformas e construções, às vezes mais duradouras que os profissionais que contratei, percebi que sempre é preciso destruir mais um pouco. Quase sempre é preciso destruir tudo, para erguer o novo.
E como é duro olhar para os tetos arrebentados, os forros arrancados, pisos destroçados e dividir com o que restou e os pedaços de lembranças e o mesmo espaço. São caquinhos, pó, aborrecimentos. Tempo, dinheiro, cimento e cal. Ruínas.
Sem falar nos ajustes que temos que fazer. Dormir em outros lugares. Criar outros espaços. Cozinhar na sala. Dormir no corredor. Sair do alto da cama para deitar humildemente no colchonete, jogado num cantinho qualquer do chão. A casa, em construção.
Tão sucateada que foi com o tempo e as intempéries. Desabamentos. Desalinhos. Fendas. Corrosão. A tinta fraca, feito alguns sonhos, a chuva foi quem levou.
Mas chega, então, a hora de reformar. Construir algo novo. Sem adiar. Chama o engenheiro. Chama o pedreiro. Chama o encanador! Uma nova empreitada vai começar.
E como tudo, a reforma é também passageira. Um belo dia, o cimento rejunta, o piso se emenda, a tinta seca e a casa fica fantástica! Raros, os vestígios do que ela já foi. Só a sombra na parede, de um prego que machucou mais fundo.
E o Dr. Pio estava certo. Nada se parece mais com uma casa em ruínas do que uma casa em construção. Falou com a sabedoria de quem reformou muitas vezes a sua casa.
E a vida!
* * Obrigada pela visita no blog Inesplicando. Passamos de 330 k de views
Naquela sala gigante, eu ficava com meus sonhos, espinhas, colinhas, letras de canções americanas e algumas tarefas estranhas. Física, matemática e a mais terrível de todas... a química orgânica! Eu detestava química orgânica. Meu Deus, para que serve o benzeno? Sei que tem seis ligações, ao menos.
Foi num dia de Vaticano que o toque iluminado de um anjo ou arcanjo aconteceu. Ele nem percebeu. Foi um toque de mestre. Toque divino dado com carinho, no meio da aula de português...- o que faz aqui, cara Inês?
Era o professor Arlindo que descia do púlpito e vinha até a minha cadeira mexer com minhas certezas e mudar uma vida inteira. Parado ao meu lado, enquanto todos se preocupavam com os textos de interpretação, ele segurou o meu caderno em suas mãos. Olhou as folhas soltas. Rabiscos pelos cantos. Letras dos Beatles. Frases importantes que eu guardava e nem sempre lia. Coloridos celofanes e poesias.
O mestre foi direto, com sua voz literária de velho conhecedor... - Tens alma canceriana! Nesta sala de biológicas? A quem enganas? Você é de humanas! E apontou meus rabiscos, meus textos e os inclinados traços artísticos.
Ainda hoje sigo escrevendo, rabiscando, inventando, contando histórias e crônicas do meu tempo... Culpa do toque certeiro.
Valeu, Mestre Arlindo! Eu não gostava, mesmo, de benzeno.
* *
Os livros Inesplicando de crônicas e O voo de Tábita... você encontra na Estante virtual e na Papale's Editorial.
LER FAZ BEM!
Foi uma breve caminhada, passando em frente à Igreja Coração de Maria na
Avenida larga e movimentada.
Junto ao poste, no meio de entulhos amontoados, portas e
armários quebrados, eu vi o belo oratório. Madeira escura. Detalhes em barroco. Agonizava
entre os trecos e objetos largados. Dispensados pela igreja sem chance de
restauração. Dei quatro passos adiante sem pensar no resgate. A ideia de
revirar toda a tralha, no meio das pessoas na avenida ensolarada era
impensável.
Não pensei. Fiz. Feito um cãozinho farejador e voraz fui revirando a
coisarada até puxar a peça cobiçada sem olhar para os lados, levando pela mão
por três ou quatro quarteirões até chegar em casa.
A peça era quase perfeita. A embúia, com entalhes frontais sem nenhum
dano. E na parte de dentro, ao invés da santa que julguei ter quebrado ou sido
roubada, uma espécie de corda de alumínio enrolada. Corda de relógio! Santo
engano. Mas com um pouco de arte e fé, um oratório poderia ser criado.
Retirei a corda do fundo e saí para encontrar uma santinha que coubesse
lá dentro. Que santa é essa, azulzinha e de olhos pretos? O vendedor não soube
dizer... É a Santa do relógio? Brinquei. Ele concordou, interessado em vender.
É sim. Dizem que é milagreira.
Nesse instante ela virou a santa do relógio. Ficou na parede no seu novo
oratório num cantinho especial da minha casa. Algumas visitas perguntavam como
ela agia. É senhora do tempo! Adianta o que tem urgência de ser e faz retardar
o que precisa de mais tempo pra se resolver.
Assim foi por anos o nosso segredo. Amigos ligavam pedindo ajuda pra
minha santinha do Tempo. Talvez tenha sido um pecado. Mas se ela fez algum
milagrezinho, já está pago.
Angela não conhecia a história e cuidava da casa quando derrubou o
oratório que quebrou em duas partes. A santinha do tempo partiu em mil pedaços.
Nunca mais achei uma imagem parecida.
Hoje o oratório está no sítio da família. Restaurado por meu irmão que
lhe deu novos contornos, tintas e uma pátina rosada com efeitos. Colocou um
terço e uma Nossa Senhora de Lourdes dentro.
Até quando vai durar? Não sei. Quem sabe é o Deus do tempo. Sei que
entra santa e sai santa e o relógio abandonado continua um oratório. E boto
fé... é milagreiro!
**********************
JÁ VIU AS CRÔNICAS FALADAS INESPLICANDO EM VÍDEO, NO YOU TUBE?
AINDA NÃO? ENTÃO APROVEITE E SE INSCREVA PARA RECEBER AS ATUALIZAÇÕES!
CANAL INESPLICANDO NO YOUTUBE , para ver e relaxar!