A Kombi do tio Toninho tinha duas cores. Bege e azul clarinho. Servia para levar as mercadorias da fábrica, atendendo os clientes que moravam mais adiante. Às vezes, em cidades vizinhas e fazendas distantes. Era o sonho da criançada nela passear.
Nas férias, ele atendeu nosso pedido. Decidiu nos levar até Amparo, visitar um amigo alemão, cliente antigo. Fomos em cinco. Os três primos, tio Toninho e a sofisticada tia Zilda — para tomar conta da família.
Tia Zilda era chique. Vestidos longos, salto alto e um cabelo que saltava quinze centímetros da cabeça, sustentado por um laquê duro e perfumado. Frequentava os lugares mais finos de São Paulo e descia a serra para comer no Gáudio, o ponto mais nobre e atraente no litoral de São Vicente.
Na ida, o de sempre. Cheiro de óleo queimado e quente — dentro e fora do carro — e as crianças se divertindo com o sacolejo destrambelhado. Lombadas inesperadas levavam nossas cabeças ao teto, afundando o lindo cabelo da tia Zilda em dez centímetros. Que dó. Mas ficava melhor!
Duas horas depois, na venda do alemão, tio Toninho deixou os produtos e pegou o pacote de dinheiro. Ganhamos queijo da fazenda e um pote de mel pro ano inteiro.
A volta foi mais complicada. Um prego enferrujado furou o pneu da Kombi. No acostamento, com o carro parado, três pequenos endiabrados e o parafuso que não queria soltar, tia Zilda resolveu sair da pose. No meio da pista ergueu de lado a saia e fez sinal para algum santo homem parar. Pararam cinco. Só um, com a intenção de ajudar.
Depois do auxílio e da troca demorada, tio Toninho seguiu até o borracheiro. Uma bimboca suja a dez quilômetros dali. O estômago das crianças roncava e a tia Zilda, sem o menor receio, pegou então o facão do borracheiro. Passou umas três vezes no vestido azul de veludo e cortou grandes lascas de queijo, colocando mel por cima de tudo.
Foi melhor que um banquete. Lembro do gosto até hoje. E da elegância da tia Zilda — com uma finura maior que a fineza.
Nem todo dia... é dia de princesa!
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OBRIGADA PELA LEITURA!
VOLTE SEMPRE!
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