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terça-feira, 19 de abril de 2022

MEU ANJINHO ATRASOU...

Que dia, diacho! Eu virava para todos os lados e não pregava o olho. Amanheceu um dia xoxo. Nem ensolarado, nem chuvoso. 

O pão amanhecido que coloquei no fogo queimou em um dos lados. Raspei com a faca, ruminando o gostinho de fundo amargo.

Com passos atabalhoados fui para o jardim na esperança de me queixar com algum passarinho. A borboleta amarela e preta se refazia num cantinho. Tinha perdido dois dos seus olhinhos. Uma das asas ficou esfiapada. Não sei  se ela se lambia de dor ou se lamentava tremendo sozinha e desolada. Que dia, meu Deus!

Segui entortando pelo caminho e fui me sentar no banquinho em frente ao lago do condomínio. Sentou o meu vizinho, bem juntinho. Desviei o olhar tentando viajar em solitude nas águas mas ele começou a desfiar seu rosário de mágoas. 

A mulher com arritmia, o gato do vizinho que mia, a dor insuportável na bacia... 

Meus olhos continuavam no lago esperando algum afago na calmaria. Paz, sem falatório. Só um peixe pulando ou uma flor boiando ao acaso. Mas o senhor continuava falando pros diabos.

Dei-lhe um beijo carinhoso inventando uma boa desculpa e retornei ao jardim.

Os quero-queros gritavam aflitos que os tucanos rondavam seus ninhos. Prevendo a tragédia familiar sai correndo com minhas frágeis pernas tentando em desespero voar. 

Consegui gritar. Grito de mãe aflita protegendo uma outra cria. Os tucanos partiram. Meu Deus, que dia.

No fim da tarde, o cinza escuro do céu foi se dissipando e um sol tímido  apareceu. 

Chegou meu anjinho. Com as asas trêmulas e cansado pra dedéu. Sentou-se do meu lado. - Tive um problema duro pra resolver. Por isso atrasei!

Entrelacei meus braços em suas asas cansadas e nos confortamos, sentados lado a lado. Até os anjos tem sobressaltos.

Mais calmos, dormimos. O dia amanheceu sereno, ao som  de violinos!

 

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