Páginas

quinta-feira, 16 de agosto de 2018

CHEIRO DE CHÃO MOLHADO...


Alguns cheiros da infância estão guardados em nossa memória.

Talvez residam lá há séculos, num arquivo vivo ancestral. Lembro de cheiros dos tempos da escola. O cheiro do caderno novinho e suas páginas intactas. Cheiro de papel bom. Eu rodava as páginas com as mãos para sentir o vento no rosto. Cheiro branco. Gostoso. Da brochura a desabrochar.

Bom também era o cheiro da borracha verde qua apagava o lápis. Macia e diferente da borracha de caneta. Metade azul, metade vermelha. Dura e rasurenta. Quem é que não furou um papel assim? Era preciso experiência e bom olfato para distinguir o cheiro exato das duas borrachas. E a serragem com grafite ficava presa no apontador. Acabava na ponta do nariz na hora do assoprar... feliz.

São incontáveis os cheiros da infância. Cheiros de criança. Alguns azedos e passados. A laranjada que escorria dentro da lancheira encharcada. O cheiro de xixi na calça, quando pingava. E da massinha de modelar que nos dedos grudava.

Havia cheiros maravilhosos, como o dos jasmins ao lado do colégio, na casa da Dona Joaquina. O cheiro do queijo torrado na chapa que vinha da cantina. E no intervalo das aulas, na porta da escola, o árabe de boina abria sua sacola de lona e eu sentia o cheiro das esfihas empilhadas. Incrivelmente perfumadas. Ele cortava e espremia o limão e o cheiro cítrico ficava em nossas mãos até o final das aulas. 

Mas o cheiro que me enche de ternura de um jeito úmido e impregnado é o cheiro do chão molhado. Depois da chuva dos dias quentes de verão...
É o cheiro que vem da calçada. Das gotas grandes que batem no chão e molham rapidamente as ruas e praças.

Depois de um tempo, a chuva vai embora, a água evapora e sobe lentamente o cheiro de chão quente. 
Ele invade a minha mente e inunda os meus olhos e a minha alma carente, com um leve vapor de saudade!


*       *      *        


           OBRIGADA POR VISITAR O BLOGUE!




      
            

9 comentários:

  1. Muito bom!!! Curto demais estes aromas que nos levam à infância. Lindo texto

    ResponderExcluir
  2. Verdade verdadeira lembrar de tudo isso, cheiros e sabores !!! nao perdemos essas lembranças. Um cheiro que me lembro era qdo minha Mãe fritava bolinhos de bacalhau que só ela sabia fazer !!!!

    ResponderExcluir
  3. Verdadeiramente restaurador é o cheiro de mato molhado. Chuva rega, chuva limpa, chuva revive. Cheiro de chuva é cheiro de vida! Ótimo texto Inês.

    ResponderExcluir
  4. Tinhamos ainda o cheiro de álcool das provas em mimeógrafos. O cheiro do pincel atômico, para poucos destemidos a cheira-lo. Gostosa viagem nos sentimentos...

    ResponderExcluir
  5. Tinhamos ainda o cheiro de álcool das provas em mimeógrafos. O cheiro do pincel atômico, para poucos destemidos a cheira-lo. Gostosa viagem nos sentimentos...

    ResponderExcluir
  6. Texto maravilhoso, que faz com que realmente ocorra uma viagem no tempo. Parabéns! Obrigado pelo incentivo a cultura em nosso país! "Inesplicando" o inexplicável...rs

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Obrigada Alberto! Pela leitura e pelo espaço para a arte e a cultura na TOpTV Social Media!

      Excluir
  7. Uaaaau, a Ines nos “transporta” ao passado, trazendo à lembrança cheiros hà muito esquecidos! Viagem deliciosa! 👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻🌹😘

    ResponderExcluir